O escândalo do momento diz respeito às ações do contraventor, a quem alguns denominam vulgarmente de “bicheiro” Carlos Cachoeira.
O escândalo veio à tona inicialmente com a demonstração do envolvimento de um proeminente senador oposicionista com o “bicheiro’, onde foram levantadas suspeitas de que o parlamentar estava a defender interesses diretos do contraventor no âmbito do Legislativo Federal, interesses estes ligados à polêmica da legalidade dos jogos de azar no Brasil. Esta relação obscura do “bicheiro” com o parlamentar corresponderia a uma corrupção sofisticada, cujo objeto seria não contratos administrativos superfaturados, ou desvio de recursos públicos, mas sim a defesa, por um congressista, dos interesses espúrios de um contraventor.
Ocorre que as investigações da Polícia Federal, à medida em que deixam vir à tona o que tem sido apurado, evidenciam um complexo, grandioso e organizadíssimo sistema de corrupção em que podem estar envolvidos até mesmo governadores de distintas cores partidárias.
A CPI recentemente instalada, se tiver seus trabalhos desenvolvidos com independência, poderá fazer história no combate à corrupção no Brasil, seja pela enorme quantidade de corruptos que poderão ser limados da administração pública, seja pelo conhecimento que se poderá ter das ações e métodos utilizados por uma verdadeira organização criminosa no âmbito da administração pública, o que apenas demonstra o quão falhos e frágeis são os sistemas de fiscalização da atividade administrativa em nosso país, os quais têm se mostrado inábeis a prevenir os danos ao erário.
Posicionando-se frente ao escândalo a presidenta Dilma já anunciou que membro de seu governo que for flagrado em escuta telefônica será sumariamente demitido. Lado outro, não é nada confortável a situação de dois importantes governadores possivelmente envolvidos com o contraventor. Ou comprovam sua isenção frente às suspeitas, ou o impeachment passa a ser uma possibilidade.
Embora o autor destas linhas sempre veja com ceticismo a instauração de CPIs a denominada “CPI do Cachoeira” tem uma particularidade de investigar políticos de diversos partidos, da situação e da oposição. Cada lado da contenda vai querer ver um político do outro lado sendo exposto e desmascarado perante a nação e, neste embate autofágico, pode não sobrar pedra sobre pedra e o esquema ser relevado em sua integralidade.
O ex-presidente Lula viu na CPI a possibilidade de ver a oposição enfraquecida para as eleições municipais que se aproximam. Particularmente, acredito que a própria situação possa ter lá seus inconvenientes eleitorais, conforme os rumos que as investigações tomarem!
Espera-se que a CPI mista instalada no âmbito do Congresso Nacional faça história na política brasileira e demonstre que mesmo esquemas complexos de corrupção podem ser desarticulados, quando há vontade política.
Publicado no Jornal da Manhã, de Uberaba, de 03.05.2012.
Publicado no Jornal da Manhã, de Uberaba, de 03.05.2012.