Páginas

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Decadência partidária

O Partido do Movimento Democrático Brasileiro, popularmente conhecido como PMDB nasceu com ares de grande defensor dos valores democráticos, em tempos de repressão política e de restrição de direitos políticos e civis.
Diversos nomes de valor cerraram fileiras neste partido, merecendo destaque, dentre muitos, os de Tancredo Neves, em cuja pessoa a nação brasileira via a tradução dos valores éticos, libertários e democráticos de que tanto o Brasil necessitava ao final da Ditadura Militar; e de Ulisses Guimarães, que conduziu com maestria a elaboração, votação e aprovação da, senão perfeita, ao menos evoluída Constituição Cidadã de 1.988.
Conquanto o partido em apreço tenha uma origem nobilíssima, o passar dos anos não tem sido muito favorável à legenda, que viu desaparecer seus líderes históricos, sem que outros assumissem o comando do partido com a altivez e hombridade daqueles.
Hoje o PMDB ressente de uma grande liderança nacional. Apesar de ocupar a vice-presidência da República, o partido não mais possui em seus quadros figuras carismáticas e de voz política forte junto ao eleitorado. Sarney, Calheiros e companhia normalmente ganham as páginas dos jornais mais pelos escândalos em que se envolvem do que propriamente pelos princípios que defendem.
Outrossim, a acentuada a ligação peemedebista a quem está a deter o poder, independentemente de que corrente ideológica seja o partido (veja-se que o PMDB apoiou tanto o PSDB de FHC, quanto o PT de Lula e Dilma), evidencia que esta legenda está muito mais preocupada em usufruir de uma parte do bolo do poder do que defender um projeto de nação para os brasileiros. Esta promiscuidade partidária causa pleito após pleito o descrédito dos adeptos da legenda, pois traduz um absoluto vazio ideológico.
Talvez hoje o PMDB necessite de uma refundação, não meramente de nome, como o fez o Democratas (antigo PFL), mas sim uma refundação ideológica e de conduta no âmbito da política nacional. Mas para que tal reformulação ocorresse necessitaríamos de novos líderes, pois as figuras que hoje comandam o partido estão muito bem acomodadas politicamente e por certo não desejam alterar um estado de coisas que tanto os beneficia.
É lamentável ver um partido que há duas décadas encerrava princípios tão caros e importantes hoje brigando abertamente por ministérios e cargos do segundo escalão do poder federal, recorrendo até a chantagens sobre votação do salário mínimo para conseguir seu intento.
Tancredo e Ulisses seguramente não teriam muito do que se orgulhar hoje em dia.


Publicado no Jornal da Manhã de Uberaba, de 07.03.2011.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Drogas: uma abordagem complexa


No fim de novembro de 2.010, numa ação televisionada e que envolveu esforços das polícias civil, federal, militar e ainda o apoio das forças armadas o "Morro do Alemão", no Rio de Janeiro, se viu liberto do tráfico de drogas.

Num espetáculo quase cinematográfico os bandidos foram expulsos de seus quartéis generais, e a paz e a segurança voltaram àquela megafavela carioca, depois de décadas de opressão dos criminosos.

A rapidez com que o "Morro do Alemão" foi liberto dos traficantes traz a falsa e inocente impressão de que é fácil enfrentar e conter o problema das drogas. Em verdade, o que vimos no Rio de Janeiro não foi a destruição de instituições criminosas, mas tão somente a expulsão das mesmas para outras regiões, onde poderão se reorganizar e voltar à sua rentável rotina de crimes.

A expansão do tráfico de drogas no Brasil é fato facilmente perceptível, o que demonstra a absoluta inaptidão e ineficiência de nossas autoridades em desenvolver e aplicar um programa integrado de combate e controle do mesmo.

O Brasil tem fronteiras terrestres mais de quinze mil quilômetros de extensão, a grande maioria desta com vigilância precária ou inexistente, dando todas as condições para que drogas e armas adentrem ao país vindo sobretudo da Colômbia, Paraguai e Bolívia. Nosso espaço aéreo tem um policiamento extremamente falho, especialmente em áreas pouco povoadas de Mato Grosso e Amazonas.

Lado outro, o tráfico de drogas encontra-se cada vez mais organizado, mantendo uma estrutura com administração quase empresarial, que movimenta grande quantias em dinheiro, e conta com a participação de agentes estatais corrompidos.

Hoje no Brasil a pena para quem incorre no delito de tráfico de drogas é de no máximo quinze anos, podendo o condenado submeter-se a progressão de regime. Ora, os chefões do tráfico nunca se ressocializarão, pois o ganhos do crime sempre serão atraentes. Logo, estas pessoas devem ficar o máximo de tempo possível afastadas do convívio social, pelo bem da sociedade, que só tem a perder com estas presenças deletérias.

Mais do que manter os traficantes por um prazo razoável na prisão, esta deve ser capacitada a impedir o criminoso de, mesmo recluso, comandar sua organização criminosa, como se tem visto atualmente.

Por fim, não basta coibir o tráfico, deve-se atuar na sua razão de ser, que é o consumo de drogas. Muitos dos usuários, talvez a maioria, tem interesse em abandonar o vício e retomar uma vida saudável e feliz, porém é fato que o sistema público de saúde não dispõe de estrutura e de programas adequados à abordagem e enfrentamento consistente do problema.

A complexidade da problemática das drogas demanda não apenas o uso da força, mas também da inteligência e de um desenvolvimento de programas que, atuando sobre os usuários, reduzam o mercado consumidor dos entorpecentes.

Diante da problemática das drogas não devemos nos iludir e imaginar que a solução é simplória. Somente com uma ação integrada de diversos setores do estado, não apenas com o uso da força poderemos ver o tráfico de drogas, se não integralmente debelado, pelo menos minimizado e controlado

O ideal é parar de tratar os sintomas e curar o mal pela raiz.

Publicado no Jornal "Correio de Uberlândia", de 24.01.2011 e no "Jornal da Manhã", de Uberaba, de 24.02.2011.