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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O pequeno Gauss

Numa pequena cidade alemã, lá pelos idos de 1.787, um professor de aritmética, no intuito de ocupar os seus alunos, lhes propôs um exercício no mínimo trabalhoso. O exercício consistia basicamente em apresentar ao professor o somatório dos números inteiros, de um a cem.

Mal terminara de passar o exercício no quadro negro os dedicados alunos iniciam os cálculos. Aqui e ali se viam os lápis percorrendo os cadernos e toda a sala se entretinha naquela atividade. Um mais dois é igual a três, mais quatro igual a sete e assim por diante, os cálculos iam avançando, vagarosamente, em direção ao número cem.

Menos de um minuto após haver o professor prescrito o desafio a um canto da sala, um aluno se levanta e se dirige ao professor e mostra a ele o seu caderno, com umas poucas linhas preenchidas e abaixo um número, que seria a resposta ao desafio. O número era 5.050.

O professor, que, diga-se de passagem, sequer sabia a resposta, pois ainda não havia feito o cálculo que propôs aos seus alunos, resolve conferir a conta do pequeno aluno e, para sua surpresa, a conta estava exata.

Estupefato, o professor, com toda a humildade diante de um feito daqueles, questiona como o aluno, de apenas dez anos de idade, havia chegado, em tão pouco tempo àquela resposta.

O jovem aluno então lhe explica que havia percebido que se somando o número um com o número cem obtém-se cento e um; que se somando dois com noventa e nove obtém-se cento e um; que somando três com noventa e oito igualmente se obtém cento e um. Percebeu que sempre que se somam números equidistantes, o resultado seria cento e um e que entre os números um e cem existiam cinquenta destas duplas de números equidistantes, de modo que, para se chegar ao resultado desejado bastaria multiplicar cento e um por cinqüenta, obtendo-se então o resultado final de 5.050.

O professor, reconhecendo o potencial do menino, estimulava cada vez mais aquela criança, e inclusive comprava-lhes os livros, para que ele pudesse estudar e desenvolver sua superior inteligência. O aluno não o decepcionou e seu progresso na ciência matemática foi mesmo estupendo.

O caso real deste pequeno garotinho alemão evidencia que a genialidade e o talento podem brotar ainda em tenra idade, e se desenvolver sadiamente ao longo da vida.

Ah, ia me esquecendo, este garotinho esperto respondia pelo nome de Carl Friedrich Gauss, revolucionou a teoria do cálculo, e foi o maior matemático de seu tempo!

Publicado no Jornal da Manhã, de Uberaba/MG, de 30/01/2.012.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Administração técnica

A presidenta Dilma Rousseff não é exatamente uma pessoa de perfil político, tanto que embora desde a década de oitenta ocupe cargos públicos a primeira, e única, eleição que disputou foi o pleito de 2.010, que a alçou à presidência da República.

Em sua história profissional no âmbito da administração pública Dilma sempre ocupou cargos técnicos e sempre foi reconhecida pela seriedade, rigor e competência. Quando ocupou a Secretaria de Minas e Energia do Rio Grande do Sul conseguiu expandir a capacidade do setor elétrico daquele estado em 46%. Em 1.999, numa viagem a Brasília, alertou autoridades do setor de que se não fossem feitos pesados investimentos o país passaria por problemas sérios de abastecimento de energia elétrica. Não foi ouvida, e em 2.001 o Brasil vivenciou o “apagão”, que tantos prejuízos trouxe.

O perfil técnico, em detrimento do perfil meramente político, sempre foi a marca registrada de Dilma Rousseff e tal característica a presidenta tem trazido para a sua administração, o que só bem pode fazer ao país.

Dilma tem privilegiado para ocupar os cargos comissionados mais importantes de ministérios e estatais os servidores de carreira. Agindo assim ela desagrada muitos partidos da base, que desejam estender seu campo de atuação e influência mediante a indicação de afiliados para ocupar ministérios ou cargos do alto escalão, porém dota a administração pública de eficiência, pois os servidores de carreira têm inquestionavelmente mais experiência e mais conhecimento técnico para administrar com competência e profissionalismo os setores sob sua responsabilidade.

Recentemente, a presidenta Dilma promoveu a substituição de Aloízio Mercadante no Ministério da Ciência e Tecnologia pelo presidente da Agência Espacial Brasileira e doutor em Matemática, Marco Antônio Raupp. Na Petrobrás, saiu José Gabrielli e para seu lugar foi nomeada uma servidora de carreira, a ex-Diretoria de Gás e Energia da empresa Maria das Graças Foster. Isto sem mencionar os cargos que foram providos por ocasião de sua posse, por pessoas de perfil técnico, merecendo destaque a presidência do Banco Central, para a qual nomeou o também servidor de carreira (concursado em 1.988) e PhD em Economia Alexandre Tombini.

E Dilma tem mudado a feição da administração pública federal sem sofrer retaliações políticas dos partidos da base, cujos afiliados têm sido sistematicamente preteridos pela presidenta quando do provimento de importantes cargos federais. Em verdade, outra conduta não haveria de se esperar eis que seria prova de uma mesquinhez política muito grande algum partido retirar seu apoio simplesmente porque não foi agraciado com um ministério ou uma estatal.

Independentemente do período em que ficar à frente da presidência da República, se por um ou por dois mandatos, é certo que Dilma Rousseff deixará para a administração pública federal brasileira um legado e um ensinamento muito relevantes, o de que o perfil técnico, em detrimento do perfil político, é o que melhor atende às necessidades e aos anseios de um estado que busca a modernidade, a eficiência administrativa, onde os escassos recursos públicos têm de ser geridos por profissionais com conhecimento técnico, experiência e comprometimento.


Publicado no Jornal da Manhã, de Uberaba, de 26.01.2012.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Judiciário ferido

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já era um órgão polêmico antes mesmo de seu nascimento jurídico-constitucional, o que se deu com a EC 45/2004, que veiculou a reforma do judiciário. Os opositores à criação do citado órgão do Judiciário alegavam que o mesmo poderia tolher a independência da magistratura sendo ainda, para estes, desnecessária a sua criação, dada a existência das corregedorias junto aos tribunais.

Nestes seus sete anos de existência o CNJ passou por diversos momentos de turbulência sendo alvo sistemático sobretudo de associações de juízes, que sempre desejaram o tolhimento dos poderes institucionais daquele órgão judiciário.

Em 2011 assistimos a um acirramento dos ânimos, sobretudo após a Ministra e Corregedora Eliana Calmon utilizar a expressão “bandidos de toga”, ao se referir aos membros do Judiciário que se envolvem em atos de corrupção e desvios de conduta diversos. Após tal declaração a corregedora se tornou persona non grata no Judiciário, muito embora muitas autoridades e entidades defendam a postura enérgica e rigorosa da corregedora.

Eis que, no apagar das luzes do ano judiciário de 2011 o caldeirão em que se transformou o poder judiciário volta a ferver. Primeiro, com o deferimento, por ministros do STF, de liminares que suspenderam investigações de magistrados pelo CNJ e que limitaram o próprio poder de investigação do citado órgão, até que seja julgado o mérito da ação direta de inconstitucionalidade que discute possível tolhimento das competências correicionais e disciplinares das Corregedorias dos tribunais de justiça estaduais e, depois, com o manifesto de três importantes associações de magistrados (AMB, Anamatra e Ajufe) contra supostos excessos e práticas arbitrárias levadas a efeito pela Corregedoria Nacional de Justiça, presidida pela Ministra Eliana Calmon, excessos estes consubstanciados no ato de promover investigações irregulares acerca da evolução patrimonial e sobre as movimentações financeiras de magistrados.

Ou a Corregedoria se excedeu em suas ações investigativas, e os responsáveis pelo abuso terão de ser processados e punidos, ou se comprovam as suspeitas de enriquecimento ilícito de magistrados e estes terão de justificar sua evolução patrimonial. Independentemente de quem estiver certo nesta história, quem perde é o Judiciário, eis que ficam expostas irregularidades no âmbito deste poder.

Pelo bem do estado democrático de direito, o ideal seria que o Conselho Nacional de Justiça tivesse poderes plenos para proceder, com prudência, altivez e independência, à investigação e exemplar punição de todo membro do Poder Judiciário que incidisse em práticas imorais, corruptas ou de qualquer modo incompatíveis com os princípios éticos básicos da administração pública e da magistratura. Lado outro, estas investigações não podem ser arbitrárias e inconstitucionais, cabendo ao STF delinear os poderes do CNJ, de modo a se respeitar as garantias constitucionais fundamentais.

Que em 2012 o Judiciário possa resolver e pacificar esta guerra declarada que se instalou dentro deste importante poder da República, pois o que desejamos e necessitamos, enquanto jurisdicionados, é de um Judiciário forte, eficiente e altivo, livre do denuncismo, das más ações e das trocas de acusações, que tanto têm denegrido a imagem deste poder.


Publicado no Jornal da Manhã, de Uberaba, de 05.01.2012, e no Jornal Correio de Uberlândia, de 20.01.2012.