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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A imprensa e os regimes democráticos


Quando algum movimento golpista ascende ao poder entre as suas providências iniciais está a de calar a imprensa.

No Brasil, à época da ditadura, convivemos por anos com uma voraz censura oficial, que coibia e reprimia, sem muito sucesso em alguns casos, a livre manifestação do pensamento, inviabilizando protestos ideológicos por parte dos meios de comunicação.

Porém, enquanto sejam mais visíveis os atentados à imprensa, em regimes autoritários, em estados “democráticos” também são perceptíveis ações intimidatórias à imprensa, especialmente quando os meios de comunicação começam a divulgar atos irregulares e corruptos dos detentores do poder.

Na Argentina, recentemente, assistimos à lamentável invasão da sede do Grupo Clarín, por fiscais federais, numa ação que o governo argentino reputou normal, mas que foi questionada por diversas entidades representativas do setor de comunicação. Na Venezuela de Hugo Chavez importante canal de TV foi fechado, sumariamente, pelo simples fato de se opor ao governo. Em Honduras, onde se vive um grave crise institucional e política, o governo de Micheletti já providenciou a completa destruição de um dos mais importantes canais de televisão, pelo fato de tomar partido a favor do presidente deposto Manuel Zelaya.

No Brasil, felizmente, a imprensa tem sido respeitada, lhe sendo assegurada a integral independência e autonomia para a realização de seu papel informador e estimulador de debates ideológicos. Lembremo-nos do ano de 2.005, quando da campanha massiva da imprensa sobre os envolvidos no Mensalão. Àquela época, mesmo atingindo o âmago do poder político central, os meios de imprensa não sofreram repressão oficial alguma. Tudo isto nos permite afirmar que as instituições democráticas, entre as quais há de se incluir a imprensa, estão a cada dia mais sólidas, em nosso país.

Resta-nos, por fim, lamentar decisões judiciais (liminares) que censuram previamente jornais de divulgarem notícias acerca de alguns fatos, como a de um juiz que proibiu o Estado de São Paulo de divulgar notícias acerca de uma investigação policial que analisava crimes em que o filho de um importante senador poderia estar envolvido. Não há espaço para este censura prévia, respaldada em decisão judicial, num regime que se diz democrático.

Necessário é que a imprensa seja sempre independente, para que a democracia se fortaleça, e para que o povo possa desenvolver cada vez mais seu espírito crítico.


Publicado no Jornal de Uberaba/MG, 04.10.2009.