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terça-feira, 26 de agosto de 2014

As eleições e o Triângulo Mineiro

Nos aproximamos de mais uma eleição estadual e temos como opção para o cargo de governador apenas pessoas sem qualquer afinidade ou sem qualquer vínculo político com nosso Triângulo Mineiro. Dos três principais candidatos ao Palácio da Liberdade segundo as pesquisas eleitorais dois são ex-prefeitos da capital e um ex-prefeito de Juiz de Fora, e dentre todos os sete candidatos nenhum é egresso de nossa região. Aliás, cinco deles são belorizontinos.

Economicamente o Triângulo Mineiro é poderoso, mas politicamente ainda temos pequena relevância e, no jogo político, não passamos de aprendizes perante os astuciosos e experientes líderes de nossa capital que se alternam, eleição após eleição, no comando do estado das Alterosas. A bem da verdade a nossa riqueza não tem se convertido em força política ou em mais representatividade.

Quando foi a última eleição estadual em que uma liderança política do Triângulo Mineiro teve uma participação de relevo? Sinceramente, não me lembro. Com a palavra nossos historiadores.

Tal quadro traz a lume o eterno e polêmico debate sobre a criação de um autônomo estado do Triângulo Mineiro, no qual nos veríamos administrados e governados por líderes que efetivamente conhecem dos reclamos de nosso povo e de nossa próspera região.

Há menos de três décadas tínhamos líderes políticos destemidos e engajados com o pleito emancipacionista que somente não logrou êxito na Assembleia Constituinte de 1988 devido a bem engendradas artimanhas do governo mineiro. Até o Estado do Tocantins foi criado naquela ocasião, mas o do Triângulo Mineiro, embora viável em todos os sentidos, naufragou precocemente.

Mas hoje, infelizmente, a realidade é deveras distinta e nossos líderes são servis ao governo mineiro e silenciaram momentaneamente, com sua indiferença e passividade, o ideal de um Estado do Triângulo.

Neste pleito que se aproxima o carente eleitor do Triângulo, sem identificação alguma com os candidatos que se lhe apresentam, provavelmente orientará seu voto no sentido daquele candidato mais suscetível às súplicas de nossos prefeitos por recursos e por obras. Inquestionável ser esta uma postura não muito compatível com a altivez de nosso povo mas infelizmente necessária se desejarmos ter de volta, na forma de serviços públicos, um pouco dos bilhões de reais que o governo mineiro arrecada por aqui com seus tributos.

Nossa distância em relação à capital não é meramente geográfica. Há um grande distanciamento político, erigido ao longo da história, que resultou em que personalidades destes lados das Gerais tivessem pouca ou nenhuma voz no que se passa no governo mineiro, resultando numa significativa perda da representatividade de nosso povo.

Mas este Triângulo Mineiro abençoado por Deus, de gente trabalhadora, terra fértil e natureza exuberante continuará seu infindável desenvolvimento e chegará o momento em que nos fartaremos de sermos marionetes dos ocupantes do Palácio da Liberdade. Neste momento renascerá com todo o vigor o movimento emancipacionista que somente findará com a criação do Estado do Triângulo quando, enfim, poderemos votar em gente de nossa terra, sabedora de nossos problemas e necessidades quando, enfim, poderemos nos sentir legitimamente representados.

Publicado na edição de 18.09.2014 do Jornal Correio de Uberlândia/MG.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Anão diplomático

Recentemente explodiu mais um conflito entre palestinos e israelenses e todos pudemos assistir, estupefatos, aos massacres de crianças e civis habitantes da Faixa de Gaza que caíram sob o poderio bélico de Israel.

O governo brasileiro, numa decisão acertada, convocou nosso embaixador em Tel Aviv para prestar esclarecimentos acerca do conflito e dos excessos praticados pelos israelenses na guerra, sobretudo as atrocidades praticadas em face dos civis.

O ato brasileiro, normal e corriqueiro no mundo diplomático e que representa uma desaprovação à conduta da nação onde trabalha o embaixador, não foi recebido muito bem por Israel que, representado por um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, demonstrou sua fúria e indignação alcunhando nossa nação de “anão diplomático”.

A expressão utilizada, absolutamente imprópria e desrespeitosa no tratamento que uma nação soberana há de despender a outra, traduziu a insatisfação de Israel e o episódio, ao mesmo tempo, revelou uma característica positiva de nossas ações perante o conflito, qual seja a independência. Enquanto diversas nações, por subserviência econômica ou política aos EUA simplesmente “fecham os olhos” perante a trágica situação e evitam recriminar os reiterados excessos israelenses contra os palestinos, nosso país, numa postura altiva, demonstra não se intimidar perante a influência que Israel, e seu grande e histórico aliado, os EUA, têm na comunidade internacional.

As opressivas e violentas ações israelenses no conflito, sempre desproporcionais e destruidoras, contam com uma repugnante conivência da comunidade internacional, que pouco ou nada faz para coibi-las, de modo que ações “inesperadas” como a do Brasil causam incômodo pois evidenciam que nem todos os povos são “cegos” e indiferentes aos massacres que as forças de Israel impingem aos palestinos.

Nosso Brasil, embora desrespeitado, sai, do ponto de vista diplomático, fortalecido do episódio. Indiscutível é que não se pode adotar uma postura hipócrita e omissa perante um conflito onde escolas com centenas de crianças são bombardeadas enquanto elas dormem. Ao chamar o embaixador para pedir esclarecimentos nosso governo demonstrou que o legítimo direito israelense de se defender não há de se converter num direito de exterminar inocentes, que foi o que aconteceu no mais recente conflito.

Em verdade no conflito Israel-Palestina há um autêntico anão diplomático que, embora econômica e politicamente poderoso, esquiva-se de assumir sua responsabilidade em recriminar e coibir massacres de inocentes. São os EUA, cuja forte ligação a Israel lhes retira qualquer isenção cabendo-lhes ainda a sórdida obrigação de defender, perante a comunidade internacional, as abusivas e cruéis ações dos israelenses no conflito.

Se o mundo da diplomacia não fosse polarizado e dominado pelos EUA ao nosso país restaria lugar de destaque enquanto um contrapeso às ações e opressões daquela poderosa nação e de seus aliados. Mas por enquanto nos satisfaz saber que nosso país não se alinha ao discurso hipócrita de muitas nações favoráveis aos abusos israelenses e não fecha os olhos à dor dos palestinos.

O Brasil pode ser um anão na relevância diplomática, porém muitas outras nações são anãs no respeito ao ser humano.

Publicado na edição de 18.08.2014 do Jornal da Manhã, de Uberaba/MG e na edição de 19.08.2014, do Jornal Correio de Uberlândia/MG.