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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Os recursos do pré-sal


É contagiante a empolgação do presidente Lula com relação às recentes descobertas de petróleo na plataforma continental brasileira. Quem assiste aos apaixonados discursos do líder máximo da nação chega mesmo a acreditar que a solução para os profundos e históricos problemas deste país está lá, nas profundezas do oceano, sob a faixa chamada pré-sal.

Muito embora seja indubitável que o petróleo tenha na economia mundial relevância indiscutível, enquanto principal fonte de energia, há ponderações que merecem ser feitas, antes de se proclamar a sempre propalada, mas nunca alcançada, auto-suficiência quanto ao abastecimento de petróleo, bem como antes de se distribuir os recursos financeiros que podem ser gerados, através do ouro negro encontrado.

Conquanto seja ótima a notícia de que reservas tão grandiosas tenham sido encontradas, a questão do potencial econômico do pré-sal há de ser apreciada com a devida ressalva, havendo algumas ponderações oportunas, sejam atinentes ao preço do mesmo, no mercado internacional, sejam relativas ao processo de exploração.

O preço do petróleo não é fixado por nação, ou entidade alguma, muito embora as nações componentes da OPEP detenham a maior parte do petróleo mundial, seu preço não é regulado por esta instituição, mas pelo mercado internacional do produto, o qual é muito instável, estando sujeito a altas e baixas muito relevantes, em curto espaço de tempo. A grande quantidade de petróleo nas profundezas só ganha importância se o preço do barril se mantiver em elevado patamar pois, caindo seu preço, igualmente caem os potenciais lucros.

O tema do preço tem profunda ligação com a questão da tecnologia e dos custos da exploração. O petróleo localizado no pré-sal encontra-se em local de exploração extremamente difícil, mesmo para um país que detém tecnologia de ponta neste aspecto, como é o Brasil. Se o custo da exploração for muito elevado, e o preço do barril do petróleo no mercado internacional estiver em baixa, começa a ser discutível se de fato é viável a exploração nestas condições. Ao contrário das nações árabes, onde o petróleo se encontra no continente, o que minimiza os custos, no Brasil a exploração será em alto mar, o que demanda vultosos recursos.

Se o preço do barril de petróleo vier a cair drasticamente, cai por terra a pretensão do presidente Lula de fazer justiça social com os recursos advindos da exploração do petróleo do pré-sal.

Não desejamos manifestar um sentimento de pessimismo, acerca das recentes descobertas, eis que as mesmas, efetivamente, poderão trazer benefícios à matriz energética brasileira. Entretanto, mais do que fazer do pré-sal uma discutível fonte de recursos para se fazer justiça social, possivelmente mediante ações estatais meramente paternalistas e assistencialistas, o que se espera de um governo racional é que aproveite os novos recursos energéticos para criar uma economia industrializada forte, e sólida.

Precisamos abandonar este perfil meramente extrativista, se quisermos ascender à condição de nação realmente desenvolvida.


Publicado na edição do Jornal Correio, de 19.09.2008, edição n.21.343, ano 70, Uberlândia/Mg.

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