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terça-feira, 11 de junho de 2013

Patriotismo de ocasião


Muito em breve se iniciará em nosso país uma grande competição esportiva de futebol que reunirá as seleções campeãs dos torneios continentais e a nossa lendária seleção canarinho a qual, embora não seja campeã sulamericana, adquiriu o direito de participar do evento por ser o país sede do mesmo.

Em tempos de grandes eventos esportivos surge dentre os brasileiros um fenômeno que expressa a despolitização de nosso povo e o aspecto frágil e superficial do sentimento que nós une à nação a que pertencemos. A este fenômeno pessoalmente denomino de “patriotismo de ocasião”.

É fato que basta se aproximar uma grande competição de futebol, sobretudo a maior de todas que é a Copa do Mundo, e o país vai se pintando de verde e amarelo, bandeiras são expostas nas janelas, camisas nas cores da seleção ganham as ruas, enfim, por alguns momentos nos recordamos de que somos brasileiros, de que pertencemos a uma nação que nos une sob o mesmo nome de Brasil, não obstante as nossas grandes diferenças culturais.

O ufanismo momentâneo do brasileiro, inflado por entusiasmadas campanhas publicitárias veiculadas de forma maçante pela emissora detentora dos direitos de transmissão dos jogos e calcado num sentimento hipócrita de que nossos milionários jogadores são os legítimos representantes de um povo ávido por triunfos em campo constituem o pano de fundo do patriotismo de momento que abunda dentre os brasileiros, sobretudo em épocas de Copa do Mundo.

O brasileiro tem de ter orgulho de nossa nação em todos os momentos e não somente em épocas de grandes competições de futebol. Já se falou que o Brasil é a pátria de chuteiras mas, convenhamos, uma nação com a riqueza cultural e econômica como a nosso não pode resumir-se a um mero bando de adoradores de um esporte. O esporte nos traz orgulho, é verdade, e todas as nações desejam ver seus representantes honrando o nome de seu país nas competições esportivas, mas pessoalmente trocaria todas nossas cinco copas do mundo pela redução das desigualdades e da miséria que ainda imperam entre muitos de nossos irmãos brasileiros.

O dia 7 de setembro, que marca o nascimento de nossa nação, passa despercebido à maioria dos brasileiros, mas uma simples estreia de nossa seleção de futebol em uma Copa do Mundo tem o poder de paralisar o país. Nos EUA o dia da independência não é um mero feriado nacional, mas antes um momento de glorificação da pátria e de exaltação do sentimento de patriotismo. Por aqui o dia da independência nada mais é que uma ocasião para se fazer um churrasco, ou assistir a um filme na TV.

A adoração ao futebol é marca de nosso povo, porém, o brasileiro precisa se orgulhar de seu país não porque é o maior detentor de Copas, mas sim porque é uma nação que pouco a pouco vai galgando progressos econômicos, que vai superando a pobreza, que ostenta um povo moldado pela miscigenação que sabe conviver pacificamente, não obstante as diferenças culturais que existem de norte a sul.

Publicado na edição do dia 23.06.2013 do Jornal Correio de Uberlândia.