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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

E lá se foi uma década!

A primeira década do século XXI está se findando.

Ao espocarem os fogos dos festejos da passagem do ano estaremos iniciando a segunda década deste século de avanços, incertezas e medos.

Os eventos que pontuaram os primeiros dez anos do século do século XXI foram bem sintomáticos do que poderemos vivenciar no desenrolar das décadas futuras.  

Muitos historiadores não titubeiam em afirmar que esta década, e o próprio século XXI, tiveram seu marco inicial no fatídico 11 de setembro de 2.001. Apesar de não concordar muito com a escolha de um episódio tão triste e lastimável para se pontuar o início de uma nova era, certo é que a paz pouco se fez presente no planeta durante esta década. Os palestinos e judeus continuam sem se entender, as Coreias teimam em colocar todo o planeta em alerta, ante a iminência um confronto nuclear, o Irã segue sua escalada de ódio, os americanos permanecem acreditando que bombas podem trazer paz.

No plano econômico, a crise financeira desencadeada pela iminente bancarrota de empresas e bancos americanos em 2.008 nos remeteram aos episódios da Queda da Bolsa de Nova Iorque em 1.929 e demonstraram a eterna fragilidade e a instabilidade do sistema capitalista, cujo colapso pode jogar milhões na miséria. 

No plano das relaçãos humanas nesta década que se finda a Internet e a proliferação das redes sociais trouxeram a falsa sensação de aproximação das pessoas, maquiando a solidão e o distanciamento que cada vez mais tem pautado a existência humana, especialmente nas nações mais desenvolvidas e nos grandes centros urbanos.

Por fim, mais preocupante que os conflitos armados e as instabilidades do sistema financeiro internacional são as questões climáticas que, embora sempre em voga, atingiram nesta década um grau de preocupação que vem mesmo a colocar em dúvida a sobrevivência humana na terra num futuro não muito distante. Pena é observar que as nações desenvolvidas continuam ignorando os problemas climáticos, relutando em não adotar medidas para conter o agravamento da situação.

Enfim, certo é que não há muito a se comemorar ao fim desta primeira década do século XXI e ao que parece a humanidade reluta em não renunciar ao seu caminho visivelmente autodestrutivo.

Estranho é observar que mesmo progredindo tecnologica e cientificamente a humanidade vê a paz, o amor e a felicidade como valores sempre distantes ou, quando obtidos, em risco permanente.

Entretanto, sempre que uma nova década se inicia devemos nos municiar de alegria e esperança. Deus presenteou o ser humano com grande conhecimento, e alguma sabedoria. Que nesta década que se inicia ouçamos pelo menos um pouco esta última, pois com sabedoria talvez possamos trilhar um futuro melhor.

Publicado no "Jornal da Manhã", de Uberaba/MG, de 03.01.2011 e no "Correio de Uberlândia", de 10.01.2011.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Censo 2010

Interessante como um censo, que basicamente se destina a colher dados demográficos para orientar as ações governamentais, pode provocar tanta polêmica em nossa cidade, como o Censo 2010, cujos dados o IBGE recente divulgou. Inicialmente, quando da divulgação da prévia da pesquisa, a qual indicava uma população ao redor de 570 mil habitantes, não foram poucos os que criticaram o censo, ao argumento de que era um "absurdo" a nossa cidade não ter pelo menos 700 mil pessoas. Num segundo momento, quando da divulgação dos resultados oficiais, muitos lamentaram a "perda" de nossa condição de segunda maior cidade de Minas, e de segunda maior cidade de interior do Brasil. Pessoalmente, fiquei muito satisfeito com o resultado do Censo 2010, e torço para que o censo da próxima década aponte um menor crescimento populacional para nossa cidade, pois é fato que quanto maiores se tornam as cidades, pior é a qualidade de vida experimentada pelos munícipes.

Publicado no jornal "Correio de Uberlândia", de 10.12.2010.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A emancipação do Triângulo Mineiro

Não há dúvidas de que a criação do estado do Triângulo Mineiro é jurídica, política e economicamente viável.

Nossos deputados constituintes, atentos à possível necessidade histórica de criação de novos estados no âmbito da federação brasileira, colocaram no Texto Constitucional de 1988 o Art. 18, Parágrafo 3º, o qual submete a criação de novos estados à manifestação da vontade popular, mediante plebiscito, e à aprovação de uma lei complementar, pelo Congresso Nacional.

Seguramente, um plebiscito realizado nos municípios da área territorial do futuro estado do Triângulo Mineiro não teria menos de noventa por cento de aprovação à criação da nova unidade federativa, dada a incontestável receptividade e simpatia do povo triangulino ao projeto.

Igualmente, o estado do Triângulo Mineiro teria plenas condições de se manter e se estruturar, eis que esta é uma das regiões mais ricas e de maior e mais consistente progresso econômico do país, seja na área industrial, seja no setor da agropecuária.

Cabe, então, um singelo questionamento: se o altivo povo do Triângulo deseja um estado próprio, se a Constituição Federal admite tal emancipação e se a região é estruturada economicamente, o que falta para o Estado do Triângulo converter-se numa realidade?

A nosso modesto sentir, falta engajamento político das lideranças triangulinas, as quais hoje não ostentam o mesmo espírito altivo, independente e combativo de outrora, preferindo manter uma relação quase de subordinação ao governo estadual, a quem interessa a manutenção do Triângulo sob os domínios mineiros.

Se à época da Assembleia Constituinte a atuação de políticos da região por muito pouco não resultou na criação do estado do Triângulo, nos dias de hoje, o que vemos é uma absoluta passividade e comodidade das autoridades políticas do Triângulo Mineiro, que têm preferido a sujeição ao poder central de BH à luta emancipacionista. A criação do estado triangulino a muitos desagrada, porém somente nos emanciparemos se enfrentarmos com vigor as autoridades que forem contrárias, ainda que entre elas esteja o governador do estado de Minas Gerais.

Não se trata de nutrir uma aversão ou rivalidade com estado de Minas Gerais, cuja cultura e história sempre hão de ser louvadas e respeitadas, mas apenas de se reconhecer a força e o potencial econômico das cidades da Região do Triângulo, bem como a sua distinta identidade histórica, a qual não teve a mesma formação do restante do Estado. Tal reconhecimento somente se concretizará com a criação do estado triangulino, ocasião em que o povo de nossa região poderá deliberar sobre seus interesses, objetivos e anseios.

O povo do Triângulo é maduro e empreendedor o suficiente para desejar o poder de se governar e determinar seus destinos. Imagino que ainda nos é dado sonhar com um autônomo e progressista estado do Triângulo Mineiro. Quem viver verá!

Publicado no Jornal da Manhã, de Uberaba, de 25.11.2010.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Triângulo Mineiro


Sábias e pertinentes as palavras do jornalista Antônio Pereira da Silva em seu artigo “Estado do Triângulo”. Pode observar o nobre escriba que uma simples partida de futebol é suficiente para evidenciar as enormes e históricas diferenças entre nós triangulinos e nossos queridos vizinhos, os mineiros. Faria apenas uma ponderação, penso não sermos mais paulistas que mineiros.

Em verdade, o povo do Triângulo, a meu ver, resultou de uma miscigenação de pessoas vindas de distintas origens, especialmente, de São Paulo e Goiás e de outras regiões das Minas Gerais. Tenho profundo respeito pela cultura mineira e pelo vizinho Estado de Minas Gerais, mas, sinceramente, ainda desejo ver a identidade triangulina respeitada e isto só ocorrerá com nossa emancipação e a criação de um novo Estado.

Publicado no jornal "Correio de Uberlândia", de 18.11.2010.

Ingratidão

Lamentáveis as manifestações do treinador do Cruzeiro após a derrota para o São Paulo. Atribuir a vitória do tricolor paulista ao apoio que aquela equipe teve de sua torcida, teoricamente em maior número no Parque do Sabiá, é algo risível. Devemos lembrar que contra o Atlético Mineiro só havia cruzeirenses no estádio e, mesmo assim, por pouco não levaram uma goleada histórica.

Outrossim, em Sete Lagoas, para onde o técnico Cuca deseja levar seu time, o Cruzeiro foi derrotado no mesmo Brasileirão por 1x0. Enquanto a Raposa vinha ganhando pelo placar mínimo parecia haver uma lua de mel entre o clube e a cidade de Uberlândia. Bastaram duas derrotas para o torcedor uberlandense de apoiador ser considerando o grande culpado pela crise cruzeirense. Talvez seja a hora de o Cruzeiro se despedir de Uberlândia.

Artigo publicado no jornal "Correio de Uberlândia", de 11.11.2010.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sucesso garantido

Tenho lido com atenção os comentários do preclaro Ivan Santos acerca da eleição da Sra. Dilma Rousseff e, com a devida vênia, não posso concordar com a alcunha de "poste", atribuída pelo jornalista à futura presidente. Nesta eleição foram violentos os ataques à candidata Dilma, perpetrados anonimamente por opositores que se valeram, sobretudo, da Internet para macular sua imagem e pintar com as cores do ódio seu passado de militante de esquerda.

Dilma superou todas estas vicissitudes e com uma grande vantagem ascendeu ao posto político mais alto do Brasil, deixando para trás um candidato de passado respeitado, mas que representa uma ideologia falida, cujo retorno ao poder o povo não mais admite.

Não acredito ser adequado depreciar a pessoa da nova presidente, pelo simples fato de ter sido apoiada com grande afinco pelo presidente Lula e ter neste apoio uma das razões de sua vitória. Dilma terá confortável maioria na Câmara e no Senado, administra um país que está entre os que mais crescem no mundo e trabalha há mais de cinco anos na antessala do presidente Lula, ou seja, sabe muito bem os princípios que nortearam a retomada do desenvolvimento deste país, depois de anos de governo FHC, onde não nos era dado esperar muito do futuro do Brasil. Os críticos podem torcer contra, mas o sucesso de Dilma e do Brasil está garantido.

Em termos de carisma Dilma não chega aos pés de Lula, mas tecnicamente, é muito superior. Maior prova disto é que chegou ao governo para administrar a complexa pasta das Minas e Energia, cuja péssima condução na era FHC provocou o apagão de 2001, e administrou tão bem este setor que hoje o Brasil tem uma matriz energética que tem suportado com sucesso o progresso econômico do país.

Não faltarão críticos da Sra. Dilma, os quais egoisticamente torcerão pelo seu fracasso, entretanto hoje vivemos em um país que retomou o caminho do progresso. Torcemos muito pelo sucesso de Dilma, pois só ele poderá sufocar o pranto dos saudosistas do neoliberalismo de FHC.

Publicado no jornal "Correio de Uberlândia" de 06.11.2010.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Assédio Moral no Trabalho

Recentemente o Tribunal Superior do Trabalho confirmou a condenação da Caixa em pagar 718 mil reais a um ex-funcionário, dada a coação psicológica exercida sobre o mesmo o qual, ocupante de função de arquiteto, vinha sendo reiteradamente ameaçado por superiores para aceitar o cargo de escriturário, sob pena de ser transferido de cidade.

O caso exposto mostra a face de um moderno e grave fenômeno das relações trabalhistas. Trata-se do comum, mas ainda pouco conhecido, assédio moral no trabalho, o qual tanto pode ocorrer em empresas quanto no âmbito do serviço público.

O TRT de Minas Gerais define assédio moral como a “conduta abusiva, de natureza psicológica, exercida por uma ou mais pessoas sobre um colega, subordinado ou não, que atenta contra a dignidade psíquica deste, de forma reiterada, com o objetivo de comprometer seu equilíbrio emocional”.

A identificação do assédio moral dá-se pela prática, por chefe ou mesmo colega, de reiterados atos (ordens severas, repreensões públicas, ameaças etc) com vistas a proporcionar sofrimento psicológico à vítima, no ambiente de trabalho, tornando o labor um verdadeiro martírio. Tal quadro revela-se de acentuada gravidade, não sendo incomum desencadear depressão, ansiedade ou mesmo tentativas de suicídio, em situações extremas. O ofensor pode ter diversas motivações, tais como vingança, antipatia em relação à vítima ou mesmo o intuito de causar pedido de demissão da mesma.

O assédio moral pode dar-se de forma tão sutil que pode passar despercebido aos demais colegas daquele ambiente de trabalho e mesmo assim trazer conseqüências dramáticas ao empregado vítima.

No direito brasileiro não há normatização específica sobre o assédio moral, entretanto existem diversas normas cíveis, trabalhistas e criminais que proporcionam uma adequada proteção às vítimas, bem como uma exemplar punição dos ofensores.

Com efeito, o trabalhador ofendido poderá considerar rescindido, com fundamento no artigo 483, d), da CLT o contrato de trabalho, em caso de constatação do assédio moral, ocasião em que restarão assegurados todos os seus direitos trabalhistas. Outrossim, na seara cível, poderá o trabalhador buscar a indenização por danos morais, dada a grave perturbação psíquica que acomete as vítimas do assédio moral. Mais que reparar o empregado vitimado do dano decorrente do assédio, a condenação do ofensor em danos morais tem o efeito pedagógico de intimidar-lhe quanto a futuras práticas de atos tão reprováveis. Não são raras as condenações em valores elevados.

O assédio moral no trabalho é uma realidade nas modernas relações laborais, e tem efeitos dramáticos sobre as vítimas, não podendo as mesmas se calar diante de tais agressões.

O Ministério Público do Trabalho, a Delegacia Regional do Trabalho e um sério advogado trabalhista poderão oferecer à vítima do assédio moral o adequado amparo, e buscar a devida punição do ofensor.

Publicado no Jornal da Manhã, de Uberaba/MG, em 22.11.2010.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Egoísmo político


Interessante observar que pleito após pleito temos a sensação de que Uberlândia tem ficado cada vez mais enfraquecida nos Legislativos, estadual e federal. Como uma cidade que progride economicamente de modo tão veloz, tem um eleitorado numeroso e vivencia um crescimento populacional dos maiores do país pode conviver com desempenhos eleitorais cada vez mais fracos, no âmbito das casas legislativas. Não faz muito tempo, e tínhamos cinco deputados estaduais e três federais, isto com um eleitorado menos significativo que o de hoje.

Uberlândia está padecendo de um acentuado "egoísmo político" onde candidatos, sem nenhuma perspectiva concreta de vitória, lançam-se à disputa do pleito, tendo estas candidaturas o efeito único de dispersar os votos, gerando esta acentuada dispersão de votos entre os postulantes uma imensa dificuldade dos candidatos uberlandenses se elegerem, tanto para a Assembléia, quanto para a Câmara Federal.

A vizinha cidade de Uberaba, com 214 mil eleitores a menos que Uberlândia, fez a mesma quantidade de deputadores federais que nossa cidade. Em termos puramente matemáticos, Uberlândia poderia ter feito no mínimo mais um deputado federal, caso não existisse esta verdadeira pulverização de votos.

Após a divulgação dos resultados da eleição de 03 de outubro pudemos verificar a imensa quantidade de candidatos de Uberlândia com votação na casa dos vinte, trinta mil votos os quais nem perto passaram da vitória, mas que seguramente colaboraram com o fracasso mútuo das candidaturas uberlandenses.

Para as próximas eleições gerais as lideranças políticas locais devem buscar o consenso quanto à indicação de poucos e viáveis nomes para o pleito, ou teremos de assistir, pleito após pleito, nossa perda de representatividade no Legislativo, não obstante o crescimento de nosso eleitorado. Que os candidatos pensem menos em si mesmos, e mais na cidade de Uberlândia.

Publicado no Jornal "Correio de Uberlândia", de 07.10.2010.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

País das maravilhas?

Quem acompanha o horário eleitoral gratuito pela TV pode até acreditar que o Brasil tornou-se, em menos de uma década, mais um país do seleto grupo das nações de primeiro mundo.

Sem menosprezar os visíveis progressos que nosso país tem obtido, o qual pessoalmente atribuo muito mais ao trabalho do povo brasileiro, que ao talento administrativo de quem quer que seja, não há dúvidas de que ainda estamos engatinhando, rumo a um desenvolvimento pleno e consistente.

Os investimentos em educação no Brasil continuam sendo pífios e sempre que somos avaliados junto a outras nações, normalmente brigamos pelas últimas posições nos índices de desenvolvimento educacional. Aumentou a quantidade de crianças nas escolas, mas a qualidade do ensino, especialmente o municipal e o estadual, ainda deixam muito a desejar.

No que tange ao saneamento básico, a impressão que tenho é que não estamos muitos distantes de uma Índia ou Bangladesh, dada a carência verificada neste setor. Os munícipes de Uberlândia, servidos por um saneamento de alta qualidade, talvez não tenham a dimensão do problema, mas no Nordeste e no Norte a situação beira ao caos.

Na habitação não se questiona o sucesso de programas habitacionais implementados nos últimos anos (os quais tem atendido basicamente à classe média), mas pouco ou nada tem sido investido em urbanização de favelas, e todos os anos assistiremos pela TV as tragédias dos desmoronamentos de encostas etc.

Não falamos sobre saúde, segurança pública, sistema tributário e outros pontos sempre críticos, mas a verdade é que ainda temos muito a evoluir em todos estes setores.

A campanha eleitoral não tem servido ao seu propósito de esclarecer o eleitor e de aguçar seu espírito crítico, para formular um voto consciente. Temos assistido a apresentações bem elaboradas por marqueteiros eleitorais, onde somos levados a acreditar que o Brasil é hoje um país das maravilhas quando, em verdade, ainda falta muita coisa a ser feita.

sábado, 28 de agosto de 2010

Política na administração pública


Conseguir êxito num pleito eleitoral como o que se aproxima demanda não apenas talento do candidato para captar votos diretamente, sendo necessária a colaboração e o envolvimento de partidos, coligações e lideranças políticas de certa expressão para que o sucesso possa ser atingido.
Um vez superadas as agruras das eleições, e assumido o almejado cargo eletivo desejado, vê-se o outrora candidato obrigado a fazer a devida retribuição àqueles partidos e líderes partidários que lhe prestaram o tão relevante apoio. Esta retribuição, conforme se pode verificar em diversos níveis da administração pública, se dá mediante a mediante a distribuição de cargos do Executivo (secretarias, ministérios etc) entre representantes proeminentes dos partidos políticos que colaboraram durante o processo eletivo.
A problemática reside na possibilidade de provimentos destes cargos, normalmente relevantes, por pessoas tecnicamente desqualificadas, sem preparo e sem condições de bem administrar o setor da administração pública a elas subordinadas.
Restou pública a recente demissão do presidente da empresa de correios e telégrafos em face de sua visível inaptidão para administrar aquela importante empresa federal, o que já estava se refletindo mesmo na prestação de serviços pela estatal.
Em outra ocasião, um político recém nomeado para o ministério de minas e energia foi questionado por um repórter sobre o que sabia acerca da pasta que acabara de assumir, ao que respondeu que sabia pouca coisa, porém, faria pesquisas na Internet, no final de semana, para aprender algo. O próprio repórter ficou estarrecido com tamanho desrespeito à inteligência dos eleitores e administrados!
A título de ilustração, recentemente pudemos verificar que, para respeitar o período legal de desincompatibilização e poderem disputar cargos no pleito de outubro de 2.010, diversos ministros deixaram seus cargos no governo federal sendo substituídos, em seus ministérios, por profissionais de carreira (servidores efetivos, normalmente há décadas no serviço público) os quais, a meu ver, são os reais merecedores de ocupar tais postos administrativos, dado o seu inquestionável conhecimento técnico e dada sua vinculação duradoura e vocacionada, e não apenas de ocasião, aos serviços administrativos.
Legalmente não há de se opor censura às nomeações de secretários e ministros por critérios puramente políticos uma vez que, sendo cargos comissionados, são de livre nomeação e exoneração pelo chefe do Executivo, entretanto, moralmente, não vejo como ficar indiferente a tal quadro, especialmente quando a desqualificação e despreparo do nomeado são visíveis.
Os recursos públicos, mesmo em um país como o nosso, em que a economia revela-se cada vez mais pujante, são sempre escassos, e deveriam ser sempre geridos por profissionais, pelo bem da administração pública.

Publicado no jornal "Gazeta de Uberlândia", de 06.09.2010, e no "Jornal da Manhã" de Uberaba, em 09.12.2010, com o título "Influências políticas na administração pública".

sábado, 19 de junho de 2010

José Saramago


O escritor português José Saramago, recentemente falecido aos 87 anos, foi antes de tudo um subversivo. Não titubeou em questionar dogmas cristãos, nem em enfrentar em seus escritos os mais dolorosos dilemas da condição humana.

Humanizou Jesus em “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, desmistificou a morte em “As intermitências da Morte”, ressaltou nosso arraigado egoísmo em “Ensaio Sobre a Cegueira”. Em toda sua literatura o homem, com suas dúvidas, sofrimentos e inseguranças é o artista principal.

Criou um modo particular de escrever em nosso idioma, subvertendo intencional e habilmente as regras gramaticais.

Em tempos de literatura vazia e superficial de Dan Brown e Khaled Rosseini o genial José Saramago ascendeu à condição de escritor de massa mesmo abordando temas melindrosos e mesmo não renunciando ao seu estilo complexo, instigante e questionador.

A literatura portuguesa perdeu seu maior escritor dos últimos tempos. O Prêmio Nobel a ele atribuído em 1998 premia não apenas um autor, mas um idioma, que brindou o mundo com gênios da palavra escrita como Camões, Eça de Queiroz, Bocage e Fernando Pessoa.

Pena que a morte de Saramago talvez deixe em nossa literatura uma lacuna que tarde décadas a ser preenchida.

Publicado no jornal "Correio de Uberlândia", de 21.06.2010.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Racismo Institucional

O tratamento igualitário das pessoas perante a lei é algo recente na história da humanidade. Durante séculos as pessoas foram (e ainda são, em alguns países!) segregadas, segundo os mais distintos motivos, indo desde a religião e o sexo, até a raça, cor da pele ou origem.


O respeito aos indivíduos pela sua simples condição humana, independentemente de sua etnia, raça ou cor, é um princípio basilar dos direitos humanos, devendo a todos ser assegurada igualdade de condições e direitos, perante a lei.


A Constituição Federal de 1988, em mais de uma oportunidade, proclama a igualdade de todos perante a lei, vedando o tratamento racista e discriminatório.


Conquanto tenha absoluto respeito pelos defensores das medidas inseridas nas chamadas ações afirmativas, entre as quais se destacam os sistemas de cotas nas universidades e o projeto do chamado Estatuto da Igualdade Racial, compreendo serem absolutamente inconstitucionais, e mesmo discriminatórias, tais ações.


Observo que as ações afirmativas objetivam a justos e nobres propósitos, eis que procuram assegurar, sobretudo a afrodescendentes, o acesso ao ensino público superior, e ao mercado de trabalho.


Porém, é indubitável que somente o oferecimento de um ensino público de elevada qualidade poderá assegurar a todos, negros e não-negros, igualdades de condições, seja quanto ao ingresso em universidades, seja quanto à inserção no mercado de trabalho.


As cotas e o estatuto da igualdade racial são medidas paliativas, superficiais e hipócritas, e evidenciam que o estado quer permanecer se furtando ao dever de zelar pela formação cultural, educacional e intelectual de sua juventude (incluídos, negros ou não negros), especialmente da menos provida de recursos.


Lado outro, observo que o projeto do Estatuto da Igualdade Racial assegura aos afrodescendentes direitos que a própria Constituição Federal já havia garantido, há décadas atrás, dentre os quais podemos citar o direito à saúde, à cultura, ao culto religioso etc, no que se percebe a desnecessidade absoluta desta nova lei.


Infelizmente, o Brasil tem um histórico de discriminação e desrespeitos não só aos afrodescendentes, mas especialmente em relação a estes, porém não será com mecanismos artificiais que tais distorções históricas serão corrigidas.


Publicado no jornal Correio de Uberlândia, de 18.04.2010.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Futebol no Triângulo Mineiro

A primeira fase do Campeonato Mineiro de 2.010 já está quase na metade, e pelo menos duas equipes do Triângulo Mineiro (Uberlândia Esporte e Ituiutaba) estão flertando perigosamente com a Zona de Rebaixamento. O Triângulo Mineiro corre o risco de ser representado, na edição 2.011 do Mineiro, somente pela equipe Colorada de Uberaba, que tem superado com dignidade seus diversos problemas.

É lamentável que uma das regiões mais ricas e desenvolvidas do estado hoje assista à decadência de seu futebol.

Não escrevo para criticar as administrações do Verdão e do Boa de Ituiutaba, que a meu ver até fazem muito, pela falta de apoio que recebem, mas sim para criticar este modelo de Campeonato Mineiro, que serve apenas para massacrar as equipes pequenas e eliminar gradativamente as sadias rivalidades regionais.

O Triângulo Mineiro precisa de uma liga regional de futebol, que possa organizar um campeonato com as equipes da região. Um campeonato adequado à realidade financeira e à estrutura dos clubes, no qual todas as equipes possam lutar pelo título. Somente assim veríamos renascer as saudáveis e históricas rivalidades regionais, bem como a valorização de clubes que outrora desfilavam pelos gramados triangulinos, como a URT e o Mamoré de Patos de Minas, o CAP de Patrocínio, o Nacional de Uberaba, o Fluminense de Araguari dentre outros, e que hoje habitam o ostracismo futebolístico.

Quem foi ao jogo do Verdão com o Colorado pelo Mineiro de 2.010 pode perceber o quanto é agradável a rivalidade regional. São jogos diferentes, com história, com tradição, com uma energia especial. Nós precisamos é disto, e não de um Campeonato Mineiro onde nos limitamos assistir à agonia de nossos times e a esperar pela sempre monótona final Cruzeiro x Atlético.

Publicado no Jornal Correio de Uberlândia/MG, em 23.02.2010, e no Jornal de Uberaba/MG, de 04.03.2010.