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terça-feira, 12 de março de 2013

Novo papa, nova igreja


No dia 12.03.2013 os cento e treze cardeais com menos de oitenta anos se reuniram no Vaticano para a eleição da pessoa que liderará a Igreja Católica pelos próximos anos, e talvez até pelas próximas décadas, se o eleito for jovem para os padrões da igreja, ou seja, se estiver na faixa dos sessenta anos.

As eleições dos papas são sempre emblemáticas e evidenciam o caminho que a cúpula do catolicismo deseja que esta religião trilhe na nova fase que se inicia. A eleição de Bento XVI, por exemplo, foi interpretada como uma continuidade no mandato do lendário e carismático sumo pontífice João Paulo II e os quase oito anos em que o alemão esteve à frente da Igreja Romana de fato demonstraram um seguimento da ideologia, e mesmo do conservadorismo, de João Paulo.

Hoje, no entanto, se verifica que a possibilidade de eleição de um papa que vá meramente continuar o que seus antecessores faziam é algo cada vez menos provável, face ao momento histórico que vive a igreja. A Igreja Católica parece buscar um sangue novo, a nutrir-lhe a essência, de modo a que possa modernizar seu discurso, aproximar-se dos jovens, enfrentar seus problemas políticos e comportamentais internos e enfim, reinventar-se como igreja que possa dedicar-se integralmente a disseminar os valores e ensinamentos de Cristo e de Maria, dentre seus seguidores.

Certo é que fato de o Vaticano estar encravado no centro do continente europeu e dentro da Itália, país que hoje é um resquício do grande Império Romano, onde nasceu a Igreja Católica, justifica historicamente a grande quantidade de papas italianos e europeus de outras nações, porém fazendo uma leitura isenta do catolicismo atual verificamos sua pujança em países africanos, latino-americanos e mesmo na Ásia esta religião está progredindo sendo, portanto, apropriado e mesmo oportuno que se eleja um papa dentre cardeais egressos destas nações.

Um papa brasileiro, por exemplo, seria uma opção muito apropriada para o momento que a igreja vive, dado o reconhecimento mundial do espírito aberto, acolhedor e pacífico do povo brasileiro, que é visto com simpatia por todos os demais povos.

Certo é que escolher um papa não europeu e oriundo de países outrora ditos de terceiro mundo seria um passo muito grande e ousado, incompatível com o histórico tradicionalista e conservador da Igreja Católica, porém o momento da igreja é de crise, sobretudo por questões políticas que somente a alta cúpula da igreja conhece a fundo e a escolha de um nome isento, estrategicamente distante da cúpula atual da igreja, seria um ato muito nobre dos cardeais, que demonstrariam estar agindo pautado em questões da fé, e não meramente em questões políticas.

Ainda que o papa seja o líder religioso dos seguidores da fé católica, indubitável é a sua importância no debate de grandes questões atuais, sempre figurando como um contraponto muito rígido a tendências liberais relacionadas à temática do aborto, eutanásia, pesquisas com células tronco, etc, o que justifica que em certa medida a relevância universal da pessoa que sucederá no trono de Pedro.

Aguardemos o fim do conclave e o anúncio do novo sumo pontífice, o que nos indicará que caminhos deseja trilhar a Igreja Católica nos tempos vindouros.

Publicado no edição de 27.03.2013 no Jornal Correio de Uberlândia.