O grande escritor Monteiro Lobato disse certa vez que “um país se faz com homens e livros”. Adequadamente interpretada a frase do escritor cujos textos povoaram nossas infâncias depreendemos que a evolução cultural e o desenvolvimento em todos os níveis de qualquer nação passa pelo estudo e pelo saudável hábito da leitura.
Hoje, com a desleal concorrência da sempre atraente Internet o hábito da leitura, necessário à evolução científica, filosófica e cultural de qualquer povo, corre o risco de ser relegado a um segundo plano, prejudicando sobremaneira a formação do indivíduo.
Em uma pesquisa realizada entre estudantes secundaristas do Rio de Janeiro restou apurado que, embora 92% deles tenham acesso à Internet, nada menos que 14% dos alunos não leram sequer um livro nos últimos cinco anos, e outros 11% leram apenas uma obra literária no mesmo período. E mesmo entre os jovens que lêem, uma considerável parte deles o faz porque a obra será cobrada em um vestibular, ou em uma avaliação escolar. A leitura pelo simples prazer de ler, infelizmente, é algo cada vez mais raro na juventude atual e, honestamente, não vejo perspectivas de mudança nesta conduta.
Conquanto a pesquisa tenha abordado estudantes do Rio, não vejo razões para não se entender que este mesmo quadro se aplica a outras regiões, posto que em tempos de redes sociais, jogos on line e outros atrativos virtuais, é muito improvável que estudantes, sem uma orientação adequada na família e na escola, venham a trocar a Internet por um livro. É um fenômeno universal.
E estas ponderações, acerca dos efeitos nocivos da Internet sobre o ato de ler se aplicam igualmente a adultos, cada vez mais reféns e prisioneiros de seus tablets, smartphones e laptops. Observamos neste aspecto que, com a devida vênia, os chamados livros eletrônicos, outrora elevados à condição de sucessores dos livros impressos, ainda não proporcionaram a propalada disseminação da leitura.
Não estamos aqui, obviamente, proclamando que a Internet seja algo a ser evitado, mas que o uso da mesma seja racional e comedido. A título de exemplo do que falamos, se uma pessoa ficar três dias sem acessar o facebook e aproveitar este tempo para uma leitura de qualidade poderá, por exemplo, ler o clássico “A Metamorfose”, de Kafka. Se se dispuser a ficar umas duas semanas longe desta rede social talvez até conclua a leitura de “Crime e castigo”, de Fiodor Dostoievski. Mas que usuário desta rede social estaria hoje disposto a fazer algo assim?
Não comungamos da tese de que quem está a acessar a Internet está desenvolvendo o hábito da leitura. Isto, com todo o respeito, soa falacioso, pois a Internet está prejudicando sobremaneira o ato de ler, na medida em que os textos são em sua maioria versados em português ruim, são curtos, pois se for longo o leitor pode se desinteressar e, o que é mais grave, normalmente encerram abordagens superficiais, acríticas e imediatistas.
Talvez seja a hora de refletir sobre estes efeitos deletérios da Internet sobre a indispensável prática da leitura, desligar o computador, e ir ler um bom livro, pois cultura e conhecimento verdadeiro dificilmente serão obtidos em páginas da Internet, e sem cultura e conhecimento não se evolui enquanto pessoa.