O escritor português José Saramago, recentemente falecido aos 87 anos, foi antes de tudo um subversivo. Não titubeou em questionar dogmas cristãos, nem em enfrentar em seus escritos os mais dolorosos dilemas da condição humana.
Humanizou Jesus em “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, desmistificou a morte em “As intermitências da Morte”, ressaltou nosso arraigado egoísmo em “Ensaio Sobre a Cegueira”. Em toda sua literatura o homem, com suas dúvidas, sofrimentos e inseguranças é o artista principal.
Criou um modo particular de escrever em nosso idioma, subvertendo intencional e habilmente as regras gramaticais.
Em tempos de literatura vazia e superficial de Dan Brown e Khaled Rosseini o genial José Saramago ascendeu à condição de escritor de massa mesmo abordando temas melindrosos e mesmo não renunciando ao seu estilo complexo, instigante e questionador.
A literatura portuguesa perdeu seu maior escritor dos últimos tempos. O Prêmio Nobel a ele atribuído em 1998 premia não apenas um autor, mas um idioma, que brindou o mundo com gênios da palavra escrita como Camões, Eça de Queiroz, Bocage e Fernando Pessoa.
Pena que a morte de Saramago talvez deixe em nossa literatura uma lacuna que tarde décadas a ser preenchida.
Publicado no jornal "Correio de Uberlândia", de 21.06.2010.
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